MCK estreia o seu álbum "Sementes" no Musicbox em Lisboa

 


Foi na sexta-feira, 7 de Junho, que MCK se apresentou no Musicbox, em Lisboa, para revisitar e celebrar a sua obra. O rapper angolano acaba de lançar um novo álbum, Sementes (sobre o qual deu uma entrevista ao Rimas e Batidas), mas o concerto percorreu os principais temas que têm marcado o seu percurso e, em grande medida, o activismo musical que luta por uma sociedade melhor em Angola.

Todas as realidades têm os seus problemas e desafios e não faltam em Portugal assuntos políticos e sociais urgentes a abordar no plano artístico. Mas é inevitável não reconhecermos uma certa dimensão extra que reside na missão de alguém como MCK, numa sociedade que sofre de muitos outros problemas, onde a liberdade de expressão e a democracia não estão garantidas, entre tantos outros valores fundamentais.

O concerto acabou por ser uma reunião de dissidentes em torno de várias causas, daqueles que carregam uma consciência cívica e uma certa militância activista. Pessoas de diferentes idades, nacionalidades, etnias e géneros a defenderem e a celebrarem uma série de lutas da lusofonia, que MCK fez questão de representar ao convidar a rapper brasileira Bia Ferreira; ou o rapper português Valete, de origem são-tomense; além de ter havido um tributo sentido ao malogrado MC moçambicano Azagaia.

Diferentes contextos e escalas, mas muitos dos mesmos problemas em comum: a ressaca do colonialismo, a corrupção e ganância dos homens, o machismo e racismo enquanto regimes instalados, os sistemas perversos que protegem os poderosos e oprimem as pessoas comuns.

Acompanhado por Mistah Isaac e Camboja Selecta, MCK bradou por uma “Angola mais justa”, cântico que — como tantos outros naquela noite — ressoou junto da plateia que compôs o Musicbox. Denunciou as muitas imoralidades que caracterizam “o país do pai banana” e foi pertinente quando pediu à vida para desactualizar as suas músicas. Infelizmente, anos e anos depois, mantêm uma relevância assustadora, tão poucos foram os progressos sociais conquistados ao longo do tempo.

Bia Ferreira revelou uma acutilância fora de série na defesa das suas causas, evocando inclusive o historial dos seus pais como pastores evangélicos. Também ela reuniu e conquistou os fiéis em torno da sua narrativa, apelando às reparações históricas que tardam (e tardam), ou apontando o dedo à sociedade patriarcal. Já Valete fez uma pequena participação no concerto para interpretar um par de faixas, o clássico “Canal 115” e a mais recente “Rap Consciente”.

Um dos melhores momentos da noite aconteceu quando Gilmário Vemba subiu ao palco. Após prestar apoio a MCK numa das faixas, protagonizou um momento de boa-disposição e comédia que abordou também a realidade social angolana — mostrando como pode ser através do humor que se purgam as dores e se questionam os poderes instalados. A noite acabou por funcionar como uma manta de retalhos, com diversos momentos performativos que se foram seguindo uns aos outros, mas em última análise trabalhando para o mesmo público, com um objectivo comum de luta e celebração dessa atitude tão vital.

Fonte: Rimas e Batida. 

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